Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A mídia e as áreas verdes do Gama

Continua na mídia o caso das doações a militares da PM e dos Bombeiros das áreas verdes e passagens de pedestres do Gama. Ontem foi a TV Band que explorou o assunto. Além de mostrar entrevistas com moradores da cidade, exibiu também imagens que certamente chocaram aqueles que viram a reportagem. Jardins bem cuidados transformados em terra arrasada por força de uma lei distrital que sofre contestação nos tribunais do DF (duas Ações Diretas de inconstitucionalidade, uma Ação Popular, e quase duas centenas de pessoas com ações judiciais que tentam impedir a destruição das áreas verdes).


No sábado o Correio Braziliense publicou reportagem de mais de meia página na capa do Caderno Cidades. Nessa reportagem foram ouvidos também alguns moradores do Gama e também o presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal, Codhab, José Luiz Naves. Mostrando ignorar a realidade das áreas verdes doadas aos militares, José Naves chegou mesmo a afirmar, segundo a jornalista Helena Mader, do Correio, que as áreas “eram abrigos para bandidos”. A afirmação evidencia uma profunda discriminação contra a população do Gama.

Abrigos de bandidos? Quer dizer que as crianças, jovens, homem, mulheres, que usam as áreas como lazer, ou que as utilizam como passagens, viviam e transitavam entre bandidos? Lamentável comentário e de tão mau gosto. A criminalidade, efetivamente, não está no que o presidente da Codhab chama de becos, e o projeto urbanístico define como passagens de pedestres e áreas verdes e que visam uma maior qualidade de vida da população. Os comentários do funcionário público só demonstram o quanto ele ignora o que ocorre no Gama.

Melhor faria se ele não ignorasse algumas coisas que estariam acontecendo na própria empresa que dirige. Que tal ele tomar pé de algumas irregularidades nesse processo todo de doação de áreas verdes. Por que ele não se preocupa mais em verificar se há sargento, ou sargentos, que ganhavam mais que os 12 salários mínimos de renda familiar e que mesmo assim constam como “recebedores” de área verde e passagem de pedestres? E que tal ler um pouquinho as notícias que informam que alguns militares beneficiados não residem no DF nos últimos cinco anos? Deveria pelo menos apurar qual é a extensão desse problema. Para isso, um simples ofício ao comando da PM solicitando que informe, por ofício, o endereço dos militares beneficiados. Os comandos da PM e dos Bombeiros não poderiam negar que sabem onde seu soldado mora, se no DF ou em Goiás. Renda familiar superior aos 12 salários mínimos ou residência fora do DF nos últimos cinco anos, são condições que obrigam a Codhab a excluir o interessado.

Declarou ainda o chefe da Codhab que tem enfrentado as divergências “chamando as duas partes para discutir e tentar chegar a um consenso”. Que consenso? A da guilhotina com o pescoço? Que as pessoas devem concordar em abrir mão das áreas verdes e passagens de pedestres para que os lotes possam ser doados? De acordo com depoimentos de moradores que estiveram com o governador no Buritinga logo após a aprovação da Lei 780/2008, Arruda teria, irritado, declarado que gosta de briga, e que por isso as pessoas fizessem o que desejassem, pois o GDF teria quase duas centenas de advogados para garantir a doação da terra. Isso, efetivamente, não é procurar o entendimento, o consenso.

A reportagem do jornal também ouviu outro defensor da posição de que as áreas verdes e passagens de pedestres sejam destruídas para dar condições de que a terra seja doada a militares da PM e dos Bombeiros. O deputado Cabo Patrício declarou na reportagem que a doação dos becos (como ele chama) reduziu a criminalidade no Gama. Não é bem o que a população está sentindo.

A jornalista do Correio ouviu ainda o promotor Roberto Carlos Silva, que é assessor de Controle de Constitucionalidade do Ministério Público do Distrito Federal. Segundo a matéria do jornal, o promotor lembrou que foi de autoria parlamentar (foi da bancada do PT) a emenda ao projeto de lei, destinando as áreas verdes e passagens de pedestres para os militares, e que por isso tem vício de origem (parlamentar não é competente para incluir tal matéria na lei).

Uma matéria jornalística de quase uma página no sábado (e na primeira página do Caderno Cidades do Correio) e mais uma matéria nos telejornais da TV Bandeirantes no dia de ontem. Isso demonstra, de modo definitivo, que o Cabo Patrício está equivocado quando diz acreditar que os questionamentos e ações judiciais são casos isolados. Se fossem casos isolados não teriam a atenção que estão merecendo de grandes veículos de comunicação. E nem a atenção dos comentários da população da cidade. Leia mais sobre áreas verdes do Gama.